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7 de maio de 2018

CONTO: A aventura do Estrela do Ocidente (Agatha Christie)

Publicado em 1924, A aventura do Estrela do Ociente é o conto que abre a coletânea Poirot Investiga. Narrada pelo Capitão Hastings, a história tem início quando Hercule Poirot é procurado por Mary Marvell, uma famosa atriz de cinema norte-americana que está visitando a Inglaterra com seu marido, também ator, Gregory Rolf. O motivo da visita são três cartas misteriosas que a atriz recebeu de um intrigante homem chinês e que, ao que tudo indica, se referem ao seu famoso diamante Estrela do Ocidente. O teor das cartas sugerem um possível roubo da joia nos próximos dias e a atriz, preocupada, precisa do auxílio do perspicaz detetive belga.

Poirot, pronto para ajudar, sugere que a joia fique sob a sua guarda até que a ameaça seja eliminada, porém, Mary Marvell não concorda. O casal pretende comparecer à mansão de Lord e Lady Yardly com o intuito de negociar a utilização da propriedade como cenário de um filme e Mary faz questão de exibir seu diamante na ocasião. Já que não conseguem chegar à um consenso, Poirot decide abandonar a investigação. Horas mais tarde, na ausência de Poirot, Hastings recebe Lady Yardly, que lhe conta que recebeu três cartas misteriosas nos últimos dias em circunstâncias semelhantes às vividas por Mary, também sugerindo o roubo de uma joia. Assim, após a partida da mulher e a chegada de Poirot, Hastings explica tudo o que aconteceu e, intrigado, o detetive resolve solucionar o caso apenas para a sua própria satisfação.

O primeiro aspecto que chamou a minha atenção após a leitura do conto é que aqui, diferente do que acontece na maioria das histórias de Agatha Christie, o mistério não gira em torno de um assassinato e da necessidade de descobrir a identidade do assassino. O foco está em proteger as joias. O interessante, talvez por ser uma história menor, é que quase não dá tempo de começar a especular e, muito menos, de entender o que está acontecendo. E esta última característica me fez questionar se, mais uma vez, não estava sendo "atrapalhada" pelo bobalhão do Hastings.

Tenho a sensação de que Hastings serve ao propósito de confundir o leitor e, com isso, fazer com que as grandes revelações feitas por Poirot tenham um peso ainda maior. Contudo, neste conto específico, o leitor fica realmente às cegas, já que em nenhum momento conseguimos acompanhar a linha de raciocínio do detetive - coisa que conseguimos perceber levemente em diálogos travados entre Poirot e Hastings nos romances anteriores - e, em contrapartida, somos entregues aos pitacos vergonhosos do capitão. Em sua defesa, deve ser difícil conviver com Poirot, cheio de métodos e reservas até o momento do desfecho. Quanto à solução, ainda que tenha sido satisfatória, fiquei com a impressão de que algumas explicações surgiram magicamente, pois não consegui acompanhar o processo investigativo realizado pelas células cinzentas de Poirot.

É um conto divertido - é sério, eu realmente dei gargalhada depois de ler alguns comentários do Hastings -, com uma narrativa fluida e envolvente. Dá para ler bem rapidinho, durante uma pausa para beber um café e comer um pedaço de chocolate.

Quando meu amigo voltou, tive o maior prazer em relatar-lhe o que acontecera durante a sua ausência. (...) Percebi que não estava muito satisfeito por não estar presente. Mas imaginei que era apenas um acesso de ciúme. Poirot sistematicamente subestima minha capacidade e calculei que se estava sentindo triste por não encontrar qualquer falha. Fiquei secretamente satisfeito comigo mesmo, embora procurasse disfarçar com receio de irritá-lo. (P. 14)