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26 de novembro de 2018

A Redoma de Vidro (Sylvia Plath)

A edição em que li foi uma anterior lançada pela editora.


Depois de anos colocando A Redoma de Vidro na minha TBR apenas para chegar ao fim de doze meses sem sequer ter olhado para o livro na estante, finalmente posso dizer que li. Já tinha escutado muitos elogios à obra, que sempre aparece naquelas listas de melhores-livros-de-todos-os-tempos-que-você-precisa-ler, e como já esperava, contrariei meus próprios conselhos e criei expectativas. Algo me dizia que eu iria amar essa leitura e eu não podia conceber a ideia de estar enganada. Felizmente, não estava e esse livro é mesmo tudo isso que as pessoas dizem. Amei muito e se tornou facilmente um dos meus livros preferidos.

O livro foi publicado em 1963, pouco tempo antes de Sylvia Plath cometer suicídio, e tem um teor bastante autobiográfico. Conhecemos Esther Greenwood, uma jovem universitária que parece estar vivendo o melhor momento de sua vida; após entrar em uma univeridade de prestígio, ela consegue um estágio de verão em Nova Iorque, onde irá trabalhar em uma revista feminina. Tudo parece perfeito: ela tem amigos, frequenta os melhores lugares, está sempre em contato com cultura e, de forma geral, as possibilidades para o seu futuro parecem infinitas.

Porém, essa realidade de sonhos logo se torna um pesadelo, no qual Esther se afunda, aos poucos, em uma depressão. O fato de a história ser narrada pela própria protagonista torna tudo mais próximo, real e angustiante. É desesperador perceber como uma pessoa vai lentamente sendo consumida por uma doença que não era diagnosticada corretamente e nem tinha um tratamento apropriado. O sentimento aumenta ao considerarmos o que aconteceu com a autora.

Ao lado de O apanhador no campo de centeio, o livro é considerado importante por abordar a adolescência como uma fase de transição para a vida adulta - repleta de transformações, dores, dificuldades e experiências que resultarão no amadurecimento do protagonista- e é possível observar algumas semelhanças. Esther e Holden Caulfield têm o mesmo jeito crítico de observar as situações e as pessoas ao seu redor, tecendo comentários ácidos; e ambos enfrentam um colapso.

Porém, mais de uma década separa as obras e sinto que Sylvia Plath abordou a saúde mental de forma muito mais direta, tocando também na situação delicada que jovens mulheres viviam naquela época, pouco antes das revoluções culturais e sociais do fim dos anos 1960. Eram jovens que enfrentavam a difícil (e injusta) escolha entre suas famílias e suas carreiras. Não era possível ter as duas coisas e essa percepção, resultado de imposição social e repressão, inegavelmente trouxe traumas. O que mais me surpreendeu foi perceber o quanto a leitura permanece atual. Mesmo que hoje encontremos mais abertura para falar sobre saúde mental, ainda não falamos o suficiente e muita gente sequer consegue enxergar o quanto ela é negligenciada.

Cinquenta e cinco anos depois, A Redoma de Vidro permanece uma leitura relevante e necessária. Recomendo para todos, mas acho importante alertar que o livro pode causar desconforto. Como mencionei, é uma leitura angustiante e, talvez, seja um gatilho para algumas pessoas. Assim, meu conselho é guardar a leitura para um momento em que você esteja bem. Ler é sempre importante, mas mais importante ainda é a nossa saúde, combinado?


Esta leitura também faz parte do desafio The Rory Gilmore Reading Challenge.

20 de novembro de 2018

The 80's Nostalgia - Vol. 2: mais músicas para sentir saudades da década que não vivi, mas considero pakas


#01 Be With You - The Bangles
#02 New Sensation - INXS
#03 Somebody's Watching Me - Rockwell, com participação de Michael Jackson)
#04 Run To You - Bryan Adams
#05 Seven Wonders - Fleetwood Mac
#06 The End of Innocence - Don Henley
#07 Listen To Your Heart - Roxette
#08 Straight Up Paula Abdul
#09 Behind the Mask - Greg Phillinganes
#10 Shattered Dreams Johnny Hates Jazz
#11 La Isla Bonita Madonna
#12 Uptown Girl Billy Joel
#13 Glory of Love Peter Cetera
#14 Heaven is a Place on Earth - Belinda Carlisle
#15 Wouldn't It Be Good - Nik Kershaw
#16 Beds Are Burning - Midnight Oil
#17 Got My Mind Set On You - George Harrison
#18 Learning To Fly - Pink Floyd
#19 Isn't It Midnight - Fleetwood Mac
#20 Smooth Criminal - Michael Jackson

14 de novembro de 2018

A Incendiária (Stephen King)


A Incendiária foi publicado em 1980 e é um dos primeiros livros de Stephen King. Depois de anos esgotado aqui no Brasil, a Suma o trouxe de volta em 2018 com uma nova tradução e uma bela edição.

Apesar de o autor ser normalmente associado ao gênero terror, em  A Incendiária temos um suspense com ficção científica. Logo no início, somos apresentados à Vicky e Andy, um casal de universitários que resolve participar de forma voluntária de um experimento de uma organização secreta do governo chamada "a Oficina". Como resultado, os dois obtém habilidades psíquicas. Anos mais tarde, Charlie, a filha dois dois, nasce com um poder perigoso e incontrolável de fazer fogo com a mente. 

Não demora muito para que o governo demonstre interesse pela garota, com o intuito de usá-la como arma militar. Assim, o que acompanhamos durante a leitura, é a constante e desesperada fuga de Charlie e seu pai, que percorrem os Estados Unidos em busca de segurança. 

Analisando bem, acho que dá para dizer que o livro é dividido em duas partes principais e confesso que perdi um pouco de interesse durante trechos da primeira parte em que senti que a narrativa perdeu um pouco do ritmo, tudo ficou meio parado e nada parecia acontecer. Era uma perseguição sem fim. Porém, fui pega de surpresa quando, lá pela metade, a história tomou um rumo diferente e fiquei bem intrigada para saber como terminaria.

Sem sombra de dúvidas, o que mais amei foram os personagens - são todos bem desenvolvidos e com camadas, de forma que se tornam bem reais. Amei observar (ou seria assistir? Stephen King escreve de forma bem visual, rs) o amadurecimento de Charlie ao longo da história. Andy também é um personagem bem intrigante, adorei sentir o seu desespero para tentar salvar a filha (eu sei, que coisa horrível de dizer, mas essa e só mais uma prova de que Stephen King escreve muito bem). E nem sei o que dizer de Rainbird, além de que ele é fascinantemente medonho e, curiosamente, gostei do personagem; ainda que ele não tenha atributos para ganhar a simpatia de ninguém. Mais uma vez: Stephen King escreve muito bem.

De forma geral, gostei da leitura e recomendo. Porém, com ressalvas. Como mencionei, a leitura perde um pouco do ritmo em alguns momentos, o que pode ser um pouco entediante. O desfecho é satisfatório, apesar de previsível; ainda assim, não é um aspecto que tire o brilho do livro como um todo. Então, meu conselho é que tenham paciência e foquem mais no desenvolvimento dos personagens. Ah, acho que a leitura pode interessar aqueles que, como eu, adoram Stranger Things e não aguentam mais de saudades da série! 

Também quero destacar essa edição da Biblioteca King lançada pela Suma, que está muito caprichada. Além de capa dura e um design de páginas que remetam à ideia de papel pegando fogo, ela traz um posfácio assinado pelo autor e um texto de apoio de Grady Handerson, que tornam a experiência de leitura mais rica. A tradução é de Regiane Winarski, que também merece elogios!
Esse é seu grande defeito. Você olha e vê um monstro. Só que, no caso da garota, um monstro com utilidade. Talvez seja porque você é um homem branco. Homens brancos enxergam monstros por toda parte.