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20 de julho de 2020

Golem e o Gênio (Helene Wecker)

Uma das minhas metas de leitura para 2020 era ler um livro que me intimida e o escolhido foi Golem e o Gênio, de Helene Wecker, lançado aqui no Brasil em 2015 pela Darkside. Mesmo sabendo que o livro é um romance histórico com fantasia, o que me intimidava era o tamanho. Já cheguei a comentar que, de uns tempos pra cá, comecei a sentir medo de livros com mais de 500 páginas e, mesmo quando sei que posso gostar, sempre acabo deixando a leitura desses livros para outro momento.

Contudo, durante esse isolamento social e a constante sensação de incerteza, senti que a hora de tirar esse calhamaço da estante havia chegado. Logo nos primeiros capítulos, já fiquei intrigada e curiosa para saber o que iria acontecer na história. 


Aqui somos transportados para Nova Iorque, logo após a virada do século XX e conhecemos as histórias da golem Chava e do gênio Ahmad. Ambos chegam à esse cenário de maneira inusitada. Ela, uma criatura de barro criada por um rabino, desperta em um navio e, após a morte de seu mestre, chega à cidade sem saber como se comportar, em quem confiar e, de forma geral, o que fazer com sua vida. Ele, uma criatura do deserto sírio muito poderosa, ficou preso em uma garrafa por mil anos e, após despertar inesperadamente na oficina de um ferreiro, não consegue compreender quem ou o que está por trás de sua prisão em forma humana e não faz ideia de como se libertar. Eventualmente, os dois personagens se conhecem e, por meio de suas experiências e conversas, a autora nos apresenta à uma parte de Mahattan que foi construída por imigrantes. Além das histórias de Chava e Ahmad, por meio das histórias de outros personagens que vivem nesses bairros, podemos conhecer um pouco da realidade desses imigrantes, assim como aspectos das culturas árabe e judaica.

Apesar de ser considerado um livro de fantasia, gosto de pensar em Golem e o Gênio como um romance histórico com elementos sutis de fantasia. A forma como a autora insere os elementos mágicos na narrativa me lembrou um pouco o que acontece em O Circo da Noite, de Erin Morgenstern. A fantasia está ali, mas não é o foco principal. Ainda que Ahmad e Chava sejam capazes de realizar feitos fantásticos, seus conflitos e suas motivações são bastante humanas e, consequentemente, bastante reais. 

Essa é, definitivamente, uma história sobre personagens e, por isso, sinto que o ritmo mais lento talvez seja um empecilho para quem procura uma leitura com mais ação. O que mais manteve o meu interesse na leitura foi o fato de a narrativa não ser totalmente linear. Os capítulos, divididos entre personagens de forma intercalada, também apresentam momentos de flashback nos quais conhecemos o passado de muitos deles. Creio que essa estrutura funcionou para que o leitor possa compreendê-los melhor, assim como os acontecimentos que os levam a agir como agem. Ainda sobre a narrativa, vale destacar as descrições que a autora faz da cidade, suas ruas, parques e casarões. É possível se sentir completamente transportado para a Nova Iorque daquele período e adorei esse aspecto imersivo.

O livro encerra de forma satisfatória e a história traz uma conclusão, ainda que deixe alguns pontos em aberto. É possível parar por aqui, mas se o leitor sentir vontade de continuar acompanhando os personagens, uma continuação foi anunciada. The Iron Season tem a publicação prevista para 2021, mas ainda não sabemos quando chegará aqui no Brasil.