- Não escutei todos os lançamentos de 2020.
- O post é sobre o que escutei em 2020 e, por isso, a retrospectiva irá incluir coisas que não foram lançadas durante o ano.
- Mais uma vez, as categorias estão um pouco diferentes das edições anteriores. Algumas sumiram, outras surgiram e algumas foram modificadas.
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Sobre reler O morro dos ventos uivantes | Diário de Leitura #02
No início do ano, reli um dos meus livros favoritos: O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë. Foi uma releitura que aconteceu sem nenhum planejamento, estava no litoral, o calor era o típico do verão, os dias estavam ensolarados e o céu era de um azul vivo. De forma alguma descreveria o momento como o ideal para mergulhar em um clássico vitoriano, mas acho que essa imprevisibilidade foi o que tornou a experiência ainda melhor. Lembro que havia concluído a releitura de Harry Potter e a Câmara Secreta e, sem saber qual livro começar, decidi ler apenas os primeiros capítulos da obra de Emily Brontë na edição da L&PM disponível no catálogo do Kindle Unlimited. "Ah, quero só me lembrar de como a história começa", eu disse iludida e horas depois já estava completamente mergulhada mais uma vez nos tormentos de Cathy e Heathcliff.
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A releitura aconteceu entre os dias 7 e 25 de janeiro de 2020. |
Ao mesmo tempo em que a releitura me trouxe familiaridade, a história me parecia completamente diferente. Pude enxergar novas camadas, assim como a complexidade de seus personagens. Um dos pontos que achei mais interessantes e que não havia notado na primeira leitura é como a autora parece espelhar alguns deles (Heathcliff e Hareton, por exemplo) e como a história traz um aspecto meio cíclico, como se tudo formasse um círculo e se amarrasse no final. Também prestei mais atenção ao fato de que aqui também temos um caso de um relato de um relato, o que me fez questionar o tempo todo se as coisas eram exatamente como os narradores contavam. Essa estrutura me lembrou bastante a de Frankenstein, de Mary Shelley, mas também enxerguei outros pontos de semelhança em ambos os romances: a natureza parece refletir o humor dos personagens e em alguns momentos parece se tornar um personagem também; os personagens são todos dúbios, têm atitudes questionáveis e, em alguns casos, buscam algum tipo de vingança ou redenção. Há também o fato de que são poucas as pessoas em ambas as histórias que conseguem ganhar a simpatia do leitor. Tanto Emily Brontë quanto Mary Shelley criaram personagens detestáveis e, consequentemente, bastante humanos.
Um dos meus maiores receios antes de iniciar essa releitura era o de problematizar Heathcliff até chegar ao ponto de odiá-lo e parar de considerá-lo um dos meus personagens favoritos da literatura. Felizmente, nada disso aconteceu e acho que o amo mais enquanto personagem agora, mais de dez anos depois, do que quando eu tinha 18 anos. Acho que dessa vez, ainda que eu questionasse ainda mais as suas atitudes, consegui enxergá-lo de uma forma mais humana e, talvez por isso, senti o seu sofrimento e percebi o quanto ele está atormentado. Já em relação a Cathy, não sei dizer se avancei muito em sua compreensão. Claro que dez anos depois, consigo enxergar melhor as dificuldades de ser uma mulher no século XIX - infelizmente, algumas não se limitaram apenas à Inglaterra ou àquele período - e, dessa forma, também posso entender as motivações por trás de algumas de suas escolhas. Ainda assim, cheguei ao final da releitura sem a certeza de que havia de fato entendido quem é Catherine Earnshaw. Mas, talvez, seja exatamente essa a intenção da autora. Como concluí a releitura já sabendo que a experiência não demoraria a se repetir, da próxima vez que eu visitar O morro dos ventos uivantes, vou prestar ainda mais atenção nesse ponto.