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13 de dezembro de 2020

Sobre reler O morro dos ventos uivantes | Diário de Leitura #02

No início do ano, reli um dos meus livros favoritos: O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë. Foi uma releitura que aconteceu sem nenhum planejamento, estava no litoral, o calor era o típico do verão, os dias estavam ensolarados e o céu era de um azul vivo. De forma alguma descreveria o momento como o ideal para mergulhar em um clássico vitoriano, mas acho que essa imprevisibilidade foi o que tornou a experiência ainda melhor. Lembro que havia concluído a releitura de Harry Potter e a Câmara Secreta e, sem saber qual livro começar, decidi ler apenas os primeiros capítulos da obra de Emily Brontë na edição da L&PM disponível no catálogo do Kindle Unlimited. "Ah, quero só me lembrar de como a história começa", eu disse iludida e horas depois já estava completamente mergulhada mais uma vez nos tormentos de Cathy e Heathcliff.

A releitura aconteceu entre os dias 7 e 25 de janeiro de 2020. 

Ao mesmo tempo em que a releitura me trouxe familiaridade, a história me parecia completamente diferente. Pude enxergar novas camadas, assim como a complexidade de seus personagens. Um dos pontos que achei mais interessantes e que não havia notado na primeira leitura é como a autora parece espelhar alguns deles (Heathcliff e Hareton, por exemplo) e como a história traz um aspecto meio cíclico, como se tudo formasse um círculo e se amarrasse no final. Também prestei mais atenção ao fato de que aqui também temos um caso de um relato de um relato, o que me fez questionar o tempo todo se as coisas eram exatamente como os narradores contavam. Essa estrutura me lembrou bastante a de Frankenstein, de Mary Shelley, mas também enxerguei outros pontos de semelhança em ambos os romances: a natureza parece refletir o humor dos personagens e em alguns momentos parece se tornar um personagem também; os personagens são todos dúbios, têm atitudes questionáveis e, em alguns casos, buscam algum tipo de vingança ou redenção. Há também o fato de que são poucas as pessoas em ambas as histórias que conseguem ganhar a simpatia do leitor. Tanto Emily Brontë quanto Mary Shelley criaram personagens detestáveis e, consequentemente, bastante humanos.

Um dos meus maiores receios antes de iniciar essa releitura era o de problematizar Heathcliff até chegar ao ponto de odiá-lo e parar de considerá-lo um dos meus personagens favoritos da literatura. Felizmente, nada disso aconteceu e acho que o amo mais enquanto personagem agora, mais de dez anos depois, do que quando eu tinha 18 anos. Acho que dessa vez, ainda que eu questionasse ainda mais as suas atitudes, consegui enxergá-lo de uma forma mais humana e, talvez por isso, senti o seu sofrimento e percebi o quanto ele está atormentado. Já em relação a Cathy, não sei dizer se avancei muito em sua compreensão. Claro que dez anos depois, consigo enxergar melhor as dificuldades de ser uma mulher no século XIX - infelizmente, algumas não se limitaram apenas à Inglaterra ou àquele período - e, dessa forma, também posso entender as motivações por trás de algumas de suas escolhas. Ainda assim, cheguei ao final da releitura sem a certeza de que havia de fato entendido quem é Catherine Earnshaw. Mas, talvez, seja exatamente essa a intenção da autora. Como concluí a releitura já sabendo que a experiência não demoraria a se repetir, da próxima vez que eu visitar O morro dos ventos uivantes, vou prestar ainda mais atenção nesse ponto.

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Todas as edições de O morro dos ventos uivantes que já tive.

Uma vez que me certifiquei que o livro continuava um dos meus favoritos da vida, meu próximo passo se tornou a busca pela edição dos sonhos. Ao todo, já possuí cinco edições de O morro dos ventos uivantes e até janeiro de 2020, já havia me desfeito de todas, pois nenhuma me agradava. Então, depois de pesquisar um pouco (esse post da Denise Bottmann, assim como os comentários depois da postagem, me ajudaram bastante), concluí que a edição que me traria felicidade seria essa aqui, que foi lançada pela Martin Claret em 2018. Infelizmente, essa belezinha está esgotada e, depois de analisar as outras opções disponíveis no mercado, optei pela edição da Zahar. Gosto mais da capa da edição de bolso e foi ela que comprei, mesmo que não seja comentada. Pretendo realizar minha próxima releitura com ela, mas ainda não desisti da minha edição dos sonhos. A Darkside também tem uma edição que deve ser lançada ainda esse mês e pretendo ficar de olho nas opiniões de outros leitores. Como sei que a história criada por Emily Brontë será uma a qual voltarei muitas vezes mais, começo a contemplar a ideia de fazer cada releitura em uma edição diferente.

Só como curiosidade, a minha primeira leitura foi realizada em uma edição da Martin Claret publicada em 2004, que trazia a tradução de Oscar Mendes, e uma das capas mais feias que já tive na estante. Acabei emprestando para uma colega de faculdade que gostava de Crepúsculo e queria ler o livro preferido da Bella, mas até hoje ela não me devolveu e, como não tenho mais contato com essa pessoa, imagino que nunca mais verei esse livro. Por mais que a tradução fosse antiga e os nomes fossem traduzidos, fico levemente chateada porque tinha um apego àquela edição.

A edição mais bonita que encontrei. Minha próxima releitura será por ela.


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Depois de me despedir da charneca, de Thrusscross Grange, de Wuthering Heights e, claro, de seus personagens, decidi fazer umas pesquisas na internet e encontrei alguns links que quero deixar salvos aqui:

  • Esse vídeo do canal lucythereader, no qual Lucy fala um pouco sobre o porquê de ela amar tanto O morro dos ventos uivantes;
  • Esse outro vídeo da Lucy, no qual ela ela visita Haworth, região na qual as irmãs Brontë viveram e nos apresenta o cenário que serviu de inspiração para as suas obras.
  • Esse vídeo da Lauren Wade, que em 2015, se propôs a assistir sete adaptações do livro de Emily Brontë com o intuito de fazer um ranking e também ajudar aqueles que estão à procura da melhor adaptação. Gosto que ela destaca os pontos fortes de cada adaptação, mesmo que até hoje não exista uma que seja perfeita.